Como definir os critérios de aceitação de instrumentos

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Lucas Fernando

Lucas Fernando

A cada nova revisão, percebemos que a norma ISO 9001 vem dando mais importância para os instrumentos de medição utilizados na indústria e seus critérios de aceitação. A revisão de 2015, inclusive, separou a Rastreabilidade dos outros itens, para tratar melhor desse assunto.

Pensando nisso, resolvi escrever esse artigo para explicar um pouco sobre a definição dos critérios dos instrumentos e suas avaliações.

O que a ISO 9001:2015 tem a dizer sobre o assunto

Hoje, a norma ISO 9001:2015 no item 7.1.5.1 (parte que fala sobre as Generalidades), estabelece o seguinte:

A organização deve monitorar e prover recursos necessários para assegurar resultados válidos e confiáveis quando monitoramento ou medição for usado para verificar a conformidade de produtos e serviços com requisitos.

Já no item 7.1.5.2 (parte sobre Rastreabilidade da medição), diz que:

Quando a rastreabilidade de medição for um requisito, ou for considerada pela organização parte essencial da provisão da confiança na validade de resultados de medição, os equipamentos de medição devem ser:

a) verificados ou calibrados, ou ambos, a intervalos especificados, ou antes do uso, contra padrões de medição rastreáveis a padrões de medição internacionais ou nacionais….

Esses dois requisitos nos dizem, de forma resumida, que qualquer equipamento utilizado para a fabricar ou avaliar os requisitos de um produto deve ser calibrado ou avaliado dentro de uma tolerância pré-estabelecida, que chamamos de critério de aceitação.

Mas afinal, o que são critérios de aceitação?

Critério de aceitação é um limite de quanto o seu equipamento pode estar errando nas suas medições. Significa o quanto aquele equipamento pode estar errado, sem prejudicar o seu produto final.

Não existe uma fórmula para definição de critério de aceitação, então não é possível avaliarmos se o critério está “certo” ou “errado”. Cada indústria e cada equipamento, dependendo do seu uso, vai ter seu próprio critério.

Um fator muito importante a ser levado em consideração no momento de definir um critério é a utilidade do instrumento e o quão importante ele é para garantir a qualidade final do produto. Por exemplo, para uma balança que pesa carga de toneladas em navios seria aceitável um erro de 5 kg, mas se formos pensar em uma balança analítica utilizada na composição de medicamentos, qualquer 0,01mg de erro já iria colocar em risco a vida do consumidor. Então, o ramo da empresa e o uso do equipamento é o que define se a tolerância será maior ou menor.

Outro ponto muito importante sobre a definição de critérios, é que eles não devem ser estabelecidos uma vez e utilizados por toda a vida útil do equipamento, é necessário revisar o critério de tempos em tempos para saber se ele está correto e ainda atende à especificação do instrumento.

Como avaliar o certificado de calibração

Após enviar os instrumentos para calibração, você precisa avaliar os dados do certificado, ou seja, verificar se o instrumento apresenta medições dentro do critério de aceitação. Isso irá te ajudar a identificar se é preciso enviar o instrumento para manutenção, substituí-lo por um novo ou, ainda, verificar se ele pode ser utilizado em outra etapa do processo (onde a tolerância do critério de aceitação seja maior).

Por exemplo, a empresa de saneamento da sua cidade precisa manter o nível de pH da água que vai para consumo entre 5 e 9. Digamos que essa empresa use para esse controle um pHmetro que retornou da calibração com erro de 5 pH. Obviamente, esse equipamento não poderá ter o mesmo uso, pois é um erro muito grande para a escala de controle e também pela questão da segurança do consumidor.

De qualquer forma, para avaliar um equipamento, além do erro que ele demonstrou devemos levar em consideração aspectos como:

  • o erro do padrão utilizado na calibração do instrumento;
  • a temperatura de calibração do pHmetro (indicada: 25°C);
  • a validade do certificado de calibração do padrão.

Uma dica legal é fazer a seguinte pergunta: “Quanto esse equipamento interfere no meu produto final?”. A resposta dessa pergunta será determinante na definição e validação de seu critério.

O papel do laboratório de metrologia

Muitos ficam em dúvida sobre o papel do laboratório de metrologia na elaboração e avaliação dos critérios de aceitação dos instrumentos, alguns até pensam que o laboratório é o principal responsável por esses processos. Porém, a ISO diz o contrário.

Consultando a norma ISO 17025, que é uma norma específica para os laboratórios de metrologia, percebemos que a avaliação do critério de aceitação não é parte do escopo de serviços acreditados do laboratório, e isso precisa estar descrito no certificado de calibração do instrumento. Isso porque o laboratório não tem as informações necessárias (uso do equipamento, condições de uso) para estabelecer o critério de aceitação. Essa informação é muito específica de cada indústria, por isso é de responsabilidade dela.

E se o equipamento for reprovado em seu critério?

Se algum equipamento for reprovado em seus critérios de aceitação, você não pode apenas mandar para manutenção e retornar para a linha de produção de sua fábrica, pois alguns tipos de manutenção alteram os resultados dos instrumentos.

É necessária, então, uma nova calibração do instrumento, que vai garantir que o equipamento realmente está apto para desempenhar seu papel, de acordo com informações confiáveis após a manutenção dele.

Bom, nesse texto vimos que sempre que utilizamos um equipamento na indústria, precisamos garantir que ele está apto para uso, e uma forma de obter essa garantia é por meio dos critérios de aceitação. Com isso, também garantimos que o produto final está saindo com a qualidade esperada pelos seus clientes.

Defina os critérios de aceitação, envie os instrumentos para calibrar e, o mais importante, avalie seus equipamentos dentro do seus critérios, sempre lembrando de revisar as tolerâncias dos instrumentos de acordo com sua interferência no produto.

Sobre o autor (a)

9 comentários em “Como definir os critérios de aceitação de instrumentos”

  1. Fábio Francisco de Assis

    Caramba! Os artigos do blog estão cada vez melhores. Cada semana tem um post mais interessante que o outro. Parabéns Lucas!!! Excelente artigo, principalmente por se tratar de um assunto tão importante e que todos tem muitas dúvidas.

  2. Quero parabenizá-lo pela iniciativa, porém em relação ao tópico, não agrega muito ao leitor porque normalmente ele sabe que precisa elaborar um critério de aceitação, ele não sabe como, e seu post somente informou da necessidade. Outro comentário é sobre esta informação constar no certificado, não acho pertinente visto que o certificado é de calibração e os erros e incerteza da medição definidos no certificado já são ferramentas que irão auxiliar o usuário a definir o seu próprio critério de aceitação.

    1. Bom dia Antonio, agradeço o feedback, mais a recebo diariamente dúvidas de pessoas achando que tem uma formula fixa pra definir critério de aceitação, e o post é sobre isso, que não existe e se te vendem isso está errado. Cada um precisa criar o seu, não é fácil, mais é necessário.
      E sobre o segundo ponto, também recebo comentários me falando que o laboratório que realiza as calibrações DEVEM fazer a análise, e eu ressaltei que o laboratório PODE fazer, mais não é parte do escopo da acreditação do INMETRO deles.
      Qualquer dúvida estou a disposição.

  3. Oi, Lucas! Parabéns pelo artigo e pelo blog. Você conseguiu ser claro e objetivo. Principalmente para quem não tem familiaridade com o assunto, a linguagem está ótima… Recomendo ir nessa linha que você ajudará a muitos. Apenas tenho que confessar que quando vi o título (“Como definir os critérios de aceitação de instrumentos”), esperava por propostas de métodos existentes. Apesar de ter entendido plenamente seu intuito, como informado no último post, fiquei apenas com a informação: “Não existe uma fórmula para definição de critério de aceitação”, mas por onde começo para definir CA? Você chaga até a citar, utilidade e importância do instrumento, o concordo que sejam relevantes, mas são aspectos qualitativos. Mas, CA é uma informação quantitativa, certo? Como a ISO sabe que meu CA é confiável? Estou sendo um pouco crítico apenas porque preciso mesmo destas respostas. Desde já, certo de sua compreensão!

    1. Bom dia, realmente acabei errando no título, e por isso estou escrevendo outro artigo comentando uma das maneiras de começar a definir, logo vai ter aqui no blog.
      Sobre a sua dúvida, a ISO não vai saber se seu critério é confiável, você e seu processo que tem que dizer, a ISO vai ver se você verifica, e se não tem falha no seu processo garantindo assim a qualidade. Eles podem até questionar se você não tiver um método de definição. Recomendo contratar uma consultoria para te ajudar a definir o critério de aceitação caso não saiba nem por onde começar.

      Grato.

  4. Sidnei Silva de Oliveira

    Lucas uma dúvida se puder ajudar…
    Qual a diferença descrita na ISO, entre CALIBRAR OU VALIDAR?

    Se achar pertinente e quiser acrescentar em futuros post sobre o assunto, trabelhei em uma empresa que fornecia para o segmento automotivo e uma vez numa auditoria como plano de ação de uma não conformidade tivemos que revisar nosso procedimento, pois em análise do certificado de calibração o auditor questionou sobre o que foi feito com relação aos lotes que foram aprovados com aquele determinado instrumento, pois o mesmo estava com erros acima do critério de aceitação, tivemos que elaborar um plano de reação.

    Abraços
    Sidnei Oliveira

    1. Sim, muito valido a sugestão, pois se você realizou a calibração você precisa realizar verificações intermediária para garantir que o equipamento está certo.
      A ISO 9001 é muito superficial na área metrológica, recomendo que você utilize como base a norma ISO 10012 para realizar uma gestão dos instrumentos.

      Abraço

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