Índice
A cada nova revisão, percebemos que a norma ISO 9001 tem dado mais destaque aos instrumentos de medição utilizados na indústria e aos seus critérios de aceitação. Mas, a dúvida mais comum é “como definir os critérios de aceitação dos instrumentos?”
Na revisão de 2015, inclusive, a norma separou a rastreabilidade dos outros itens para tratar melhor desse assunto.
Pensando nisso, resolvi escrever este artigo para explicar a definição dos critérios dos instrumentos e suas avaliações. Vamos explorar juntos os principais pontos sobre o tema.
O que a ISO 9001:2015 tem a dizer sobre o assunto?
A norma ISO 9001:2015 no item 7.1.5.1 (parte que fala sobre as Generalidades), estabelece o seguinte:
“A organização deve monitorar e prover recursos necessários para assegurar resultados válidos e confiáveis quando monitoramento ou medição for usado para verificar a conformidade de produtos e serviços com requisitos.”
Já no item 7.1.5.2 (parte sobre Rastreabilidade da medição), diz que:
“Quando a rastreabilidade de medição for um requisito, ou for considerada pela organização parte essencial da provisão da confiança na validade de resultados de medição, os equipamentos de medição devem ser:
a) verificados ou calibrados, ou ambos, a intervalos especificados, ou antes do uso, contra padrões de medição rastreáveis a padrões de medição internacionais ou nacionais….”
Resumidamente, esses requisitos indicam que qualquer equipamento usado para fabricar ou avaliar requisitos de um produto deve ser calibrado ou avaliado dentro de uma tolerância pré-estabelecida, que chamamos de critério de aceitação
Mas afinal, o que são critérios de aceitação?
Critério de aceitação é o limite de erro permitido em um equipamento durante suas medições. Em outras palavras, é o quanto aquele equipamento pode errar sem comprometer a qualidade do produto final.
Não existe uma fórmula universal para definir esses critérios. Cada indústria e cada equipamento terá um critério diferente, dependendo do seu uso e relevância.
Um fator essencial ao definir um critério é considerar a utilidade do instrumento e o impacto que ele tem na qualidade final do produto. Por exemplo:
- Para uma balança que pesa cargas de toneladas em navios, um erro de 5 kg pode ser aceitável.
- Para uma balança analítica usada na composição de medicamentos, um erro de 0,01 mg pode colocar em risco a vida do consumidor.
Portanto, o ramo da indústria e o uso do equipamento determinam a tolerância aceitável.
Revisão Contínua dos Critérios
Os critérios de aceitação não devem ser definidos uma única vez e usados para toda a vida útil do equipamento. É necessário revisá-los periodicamente para garantir que ainda atendam às especificações do instrumento.
Como avaliar o certificado de calibração
Após enviar os instrumentos para calibração, é fundamental avaliar os dados do certificado para verificar se o equipamento está dentro do critério de aceitação. Isso ajuda a identificar ações necessárias, como:
- Manutenção do instrumento;
- Substituição por um novo;
- Reutilização em outra etapa do processo (com tolerância maior).
Por exemplo, imagine que uma empresa de saneamento precisa manter o pH da água entre 5 e 9. Caso o pHmetro retornasse da calibração com um erro de 5 unidades de pH, ele seria inviável para esse uso, devido ao grande risco à segurança do consumidor.
Aspectos a Considerar:
- O erro do padrão usado na calibração;
- A temperatura de calibração (ideal: 25°C para pHmetros);
- A validade do certificado de calibração do padrão.
Uma pergunta valiosa a se fazer: “Quanto esse equipamento interfere no meu produto final?” A resposta determinará o critério mais adequado.
O Papel do Laboratório de Metrologia na Definição dos Critérios
Muitos acreditam que o laboratório de metrologia é o principal responsável por definir os critérios de aceitação. Contudo, a norma ISO 17025 — específica para laboratórios de metrologia — esclarece que essa não é uma responsabilidade do laboratório.
A avaliação dos critérios não faz parte do escopo de serviços acreditados do laboratório e deve estar descrita no certificado de calibração. Isso ocorre porque o laboratório não possui informações sobre o uso ou condições de aplicação do equipamento, algo específico de cada indústria.
Portanto, é responsabilidade da indústria estabelecer os critérios.
E se o equipamento for reprovado em seu critério?
Se algum equipamento for reprovado em seus critérios de aceitação, você não pode apenas mandar para manutenção e retornar para a linha de produção de sua fábrica, pois alguns tipos de manutenção alteram os resultados dos instrumentos.
É necessária, então, uma nova calibração do instrumento, que vai garantir que o equipamento realmente está apto para desempenhar seu papel, de acordo com informações confiáveis após a manutenção dele.
Bom, nesse texto vimos que sempre que utilizamos um equipamento na indústria, precisamos garantir que ele está apto para uso, e uma forma de obter essa garantia é por meio dos critérios de aceitação. Com isso, também garantimos que o produto final está saindo com a qualidade esperada pelos seus clientes.
Defina os critérios de aceitação, envie os instrumentos para calibrar e, o mais importante, avalie seus equipamentos dentro do seus critérios, sempre lembrando de revisar as tolerâncias dos instrumentos de acordo com sua interferência no produto.
Metroex: O melhor Software para a Gestão de Calibração e Ensaios!
Gostou das dicas sobre como definir critérios de aceitação? Com a ajuda do Metroex você consegue fazer uma gestão sistêmica e profissional dos processos de medição em sua empresa. Elimine planilhas, ganhe tempo, garanta a conformidade com os requisitos aplicáveis e foque seus recursos no que realmente importa.
Além de sermos o melhor software para gestão de calibração e ensaios, te ajudamos com cursos de especialistas voltados à gestão, qualidade e excelência por meio da Saber Gestão. Por isso, não perca mais tempo, entre em contato conosco!
9 comentários em “Como definir os critérios de aceitação de instrumentos”
Caramba! Os artigos do blog estão cada vez melhores. Cada semana tem um post mais interessante que o outro. Parabéns Lucas!!! Excelente artigo, principalmente por se tratar de um assunto tão importante e que todos tem muitas dúvidas.
Muito obrigado. 🙂
Quero parabenizá-lo pela iniciativa, porém em relação ao tópico, não agrega muito ao leitor porque normalmente ele sabe que precisa elaborar um critério de aceitação, ele não sabe como, e seu post somente informou da necessidade. Outro comentário é sobre esta informação constar no certificado, não acho pertinente visto que o certificado é de calibração e os erros e incerteza da medição definidos no certificado já são ferramentas que irão auxiliar o usuário a definir o seu próprio critério de aceitação.
Bom dia Antonio, agradeço o feedback, mais a recebo diariamente dúvidas de pessoas achando que tem uma formula fixa pra definir critério de aceitação, e o post é sobre isso, que não existe e se te vendem isso está errado. Cada um precisa criar o seu, não é fácil, mais é necessário.
E sobre o segundo ponto, também recebo comentários me falando que o laboratório que realiza as calibrações DEVEM fazer a análise, e eu ressaltei que o laboratório PODE fazer, mais não é parte do escopo da acreditação do INMETRO deles.
Qualquer dúvida estou a disposição.
Ótimo Post! Parabéns Lucas!
Oi, Lucas! Parabéns pelo artigo e pelo blog. Você conseguiu ser claro e objetivo. Principalmente para quem não tem familiaridade com o assunto, a linguagem está ótima… Recomendo ir nessa linha que você ajudará a muitos. Apenas tenho que confessar que quando vi o título (“Como definir os critérios de aceitação de instrumentos”), esperava por propostas de métodos existentes. Apesar de ter entendido plenamente seu intuito, como informado no último post, fiquei apenas com a informação: “Não existe uma fórmula para definição de critério de aceitação”, mas por onde começo para definir CA? Você chaga até a citar, utilidade e importância do instrumento, o concordo que sejam relevantes, mas são aspectos qualitativos. Mas, CA é uma informação quantitativa, certo? Como a ISO sabe que meu CA é confiável? Estou sendo um pouco crítico apenas porque preciso mesmo destas respostas. Desde já, certo de sua compreensão!
Bom dia, realmente acabei errando no título, e por isso estou escrevendo outro artigo comentando uma das maneiras de começar a definir, logo vai ter aqui no blog.
Sobre a sua dúvida, a ISO não vai saber se seu critério é confiável, você e seu processo que tem que dizer, a ISO vai ver se você verifica, e se não tem falha no seu processo garantindo assim a qualidade. Eles podem até questionar se você não tiver um método de definição. Recomendo contratar uma consultoria para te ajudar a definir o critério de aceitação caso não saiba nem por onde começar.
Grato.
Lucas uma dúvida se puder ajudar…
Qual a diferença descrita na ISO, entre CALIBRAR OU VALIDAR?
Se achar pertinente e quiser acrescentar em futuros post sobre o assunto, trabelhei em uma empresa que fornecia para o segmento automotivo e uma vez numa auditoria como plano de ação de uma não conformidade tivemos que revisar nosso procedimento, pois em análise do certificado de calibração o auditor questionou sobre o que foi feito com relação aos lotes que foram aprovados com aquele determinado instrumento, pois o mesmo estava com erros acima do critério de aceitação, tivemos que elaborar um plano de reação.
Abraços
Sidnei Oliveira
Sim, muito valido a sugestão, pois se você realizou a calibração você precisa realizar verificações intermediária para garantir que o equipamento está certo.
A ISO 9001 é muito superficial na área metrológica, recomendo que você utilize como base a norma ISO 10012 para realizar uma gestão dos instrumentos.
Abraço