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Hoje, na era das ISOs, muito se fala da busca incessante pela qualidade e excelência. As empresas focam na aderência aos requisitos e normas para garantir a tão suada certificação e, as mais conscientes, alcançar a melhoria contínua dos processos.
Mas nem a qualidade nem a metrologia conseguem garantir isso sozinhas. Então, é preciso de ambas para se chegar nesse resultado e elas tem papel fundamental nesse processo. Assim, elas convergem de uma forma que o resultado final é um produto de qualidade, executado por um processo confiável e produtivo. E é sobre isso que vou falar, sobre a convergência entre qualidade e metrologia.
O que é convergência?
Bom, para entendermos melhor isso vamos primeiro entender o que é convergência. Do dicionário:
convergência
1. ato ou efeito de convergir.
2. qualidade ou disposição do que é convergente; direção para um ponto comum.
Ou seja, de maneira simples, convergência significa entrelaçar as coisas em pontos comuns.
Para a Metrologia e Qualidade, isso quer dizer que há uma necessidade muito grande de uma para com outra, já que elas caminham juntas para o mesmo objetivo: produtos ou processos de qualidade.
E quando a metrologia converge com a qualidade?
A metrologia é vista principalmente como apoiadora da manutenção da conformidade dos processos, principalmente por validar a conformidade das características dos produtos, instrumentos e equipamentos. Porém na verdade a metrologia abrange muito mais que isso e está ligado à toda a cadeia de valor de um produto, desde seu desenvolvimento até a entrega do produto final para o usuário.
Durante o desenvolvimento de um produto, é por meio de medições confiáveis e precisas que se garante uma menor quantidade de erros, e claro, erros na fase de desenvolvimento tem um custo muito menor do que erros em processos.
Na fase de desenvolvimento, percebendo os erros e falhas que uma metrologia confiável pode apontar, haverá um ganho significativo no processo. Dessa forma, a metrologia provê confiança para os produtos e processos serem utilizados pós desenvolvimento. Assim, a metrologia é uma tecnologia habilitadora para desenvolvimento de produtos, controle de processos, desenvolvimento e validação de métodos, desenvolvimento de outras ciências, controle e inspeção de produtos acabados, decisões estratégicas, etc.
Portanto, olhar a metrologia como apenas garantia de conformidade, não só é limitador como também é prejudicial. Digo isso principalmente pois a metrologia nos permite extrair informações por meio de medições confiáveis e precisas. Essas informações, nas mãos de pessoas qualificadas, dão início à um processo de transformação do conhecimento que vai possibilitar tomada de ações de maneira assertiva e com muito mais segurança, ou seja, menos risco.
Mas e a ISO com isso?
Se você é daqueles que não acredita muito nessa convergência e prefere se prender em requisitos das normas. Se você acha que nelas não tem nada sobre essa convergência, quero então citar um trecho dos requisitos da ISO 9001:2015, para ser mais preciso o “7.1.5.1 Generalidades” em que ela fala “…assegurar resultados válidos e confiáveis…”.
Sendo simples e objetivo: não é possível garantir resultados válidos sem metrologia, pois as medições são a base para isso!
Mas, Fábio, por que essas coisas estão “separadas”? (o “cara da qualidade” e “o cara da metrologia”)
Mesmo existindo toda essa convergência falada no tópico anterior, um grande problema na maioria das empresas é que a qualidade e a metrologia são tratadas de maneira separadas, como se fossem coisas diferentes ou pior independentes uma da outra.
Conhecendo um pouco mais do dia a dia das empresas, seja qual for o segmento (indústria, saúde, etc.), as causas para essa separação acabam sendo as mesmas, e gostaria de citar 4 que vejo como principais:
1 – A medição não é vista como processo
Primeiramente tudo começa quando a visão macro da metrologia não é entendida, e a medição não é tratada como um processo, ou seja, as pessoas não entendem que a metrologia é algo que deve ser feito com recorrência e de forma sistêmica.
Quando essa visão macro é alcançada e vemos a medição como processo, é possível gerenciar os riscos de medições incorretas e, assim, dar muito mais suporte à qualidade do produto final produzido pela organização.
Mas para esse assunto teremos ainda esse mês um artigo do Neville explicando melhor esse ponto.
2 – A metrologia é encarada como custo
Outro fator, que talvez seja o principal, é que não se vê retorno financeiro do investimento em metrologia, e ela acaba sendo vista como custo e sendo assim “não gera valor para o produto”.
Como a qualidade visa valor para o produto, essa correlação com a metrologia fica comprometida. Assim como a qualidade, a metrologia está ligada à toda a cadeia de valor do produto, ou seja, a medição pode ser usada para melhorar a produção no estágio de desenvolvimento do produto, definindo requisitos de produção e evitando desperdícios não somente no controle de qualidade; pode ser aplicada no desenvolvimento e validação dos processos e não somente como suporte à eles.
A medição apropriada e planejada contribui para melhorar o desempenho dos negócios, limitando as rejeições, evitando desperdícios, aumentando a produtividade e reduzindo os custos operacionais.
3 – Falta qualificação ou preparação para as pessoas envolvidas na metrologia
Mais uma causa que agrava essa separação é a qualificação das pessoas da metrologia, pois é responsabilidade delas aplicar assertivamente as decisões com relação as informações confiáveis obtidas a partir das medições, e prover confiança em produtos, processos, melhorias em processos e métodos.
Não se enxerga essa necessidade de qualificação para ter pessoas mais preparadas e conhecendo melhor as informações do processo, com isso a responsabilidade delas fica apenas em controlar os vencimentos dos instrumentos e a conformidade dos processos. Ou seja, para a empresa, esse controle é toda a função e toda a contribuição que a metrologia pode dar.
Um exemplo de falta de qualificação e conhecimento foi citado no artigo “Verificação de equipamentos de medição: o que é e quando realizar’’, quando o Neville cita que um erro comum observado nas empresas é a verificação utilizando dois termômetros iguais, e colocados dentro de um copo com água para ver se eles “batem o resultado”.
4 – A “departamentalização” da qualidade e metrologia
Por fim, a “departamentalização” da qualidade e da metrologia é o que fecha essa segregação!
O maior erro que as empresas cometem é querer tratar de maneira totalmente isolada os requisitos de gestão e os requisitos técnicos da metrologia, separando em “departamento da qualidade” e “departamento de metrologia”, imaginando, talvez, que isso dê mais autonomia para ambas, e até para evitar conflito de interesses.
Porém, isso só contribui para afirmar que são “coisas distintas” e que não há ligação entre qualidade e metrologia. Essa separação, então, é muito mais danosa do que benéfica, e não ajuda a consolidar a visão de que todos os requisitos visam a qualidade e confiança nos processos e no produto e, assim, se complementam.
Então, simplesmente “junte” as coisas!
Bom, o objetivo aqui era mostrar que qualidade e metrologia devem caminhar juntas. Que trata-las de maneira separada ou até mesmo enxergá-las como coisas diferentes deixa de trazer os melhores resultados que podemos obter.
Aqui, precisamos entender que uma complementa a outra e elas tem o mesmo objetivo final: ter um produto final de qualidade assegurada, desenvolvido por meio de um processo que evita desperdícios e com produtividade aprimorada!